Por Edneida Cavalcanti
Diante de certas polêmicas ou quem sabe até falsas e oportunas polêmicas, me lembro do diálogo do gato com Alice no livro Alice no país das maravilhasde Lewis Carroll: “Você poderia me dizer, por favor, por qual caminho devo seguir agora?”, perguntou ela. “Isso depende muito de aonde você quer ir”, respondeu o gato.
Uso esse trecho do livro para tratar dos embates que estão ocorrendo sobre o projeto Novo Recife, que prevê a construção de 12 prédios de até 40 pavimentos onde hoje estão localizados os armazéns do Cais José Estelita.
Proponho que as perguntas iniciais a serem feitas sejam: que cidade nós queremos daqui a dez anos? Como caminhar na perspectiva de construção de uma cidade sustentável? Quais as prioridades a serem dadas para os poucos espaços urbanos ainda não verticalizados na cidade do Recife e a quem os mesmos deveriam atender?
Parece que todos os atores envolvidos na discussão defendem a revitalização dessa área de mais de 100 mil m2, mas é fundamental que fique claro que os paradigmas que norteiam as duas principais vertentes propostas são muito diferentes. Uma está centrada na lógica da modernização urbana e apresenta o projeto como “a alternativa” para a atual situação de abandono e decadência da área, mostrada, inclusive, com cores muito fortes, e utiliza argumentos também da modernização ecológica, com propostas de criação de quiosques, praças e ciclovias.
O outro caminho apresentado coloca aspectos que estamos pouco habituados a considerar: contemplação da paisagem; direito à brisa e a uma temperatura ambiente mais adequada nas áreas centrais da cidade; direito à mobilidade, dentre outros. Se concordarmos que queremos chegar numa cidade sustentável no futuro, defender esses princípios parece ser fundamental agora. Recolocar alternativas na mesa parece ser também um bom caminho para o fortalecimento da democracia urbana e para o exercício da gestão ambiental urbana.
E vale salientar que a construção desses 12 prédios está associada ao interesse do capital em realizar uma urbanização de status. O Geógrafo Roberto Lobato Corrêa em seu livro Espaço Urbano de 1995, define urbanização de status como sendo um processo de ocupação do espaço em que os agentes sociais( Estado, proprietários de terras,grandes comerciantes e os donos dos imóveis)criam uma infraestrutura em áreas bem localizadas, valorizadas por amenidades naturais como lagoa, mar, sol, verde e etc. Tal investimento promove um aumento do preço da terra e como consequência irão atrair uma população com um nível de renda mais elevada gerando lucro para os agentes modeladores do espaço( agentes sociais). De certa forma, essa relação poderá gerar um desequilíbrio, tanto no tocante social quanto no ambiental que tenderia a aumentar gradativamente caso não exista uma regulamentação racional e rígida. Desse modo, será que é viável a construção de 12 prédios, tendo em vista, que esses podem alterar a capacidade de circulação do ar nas no local e nas proximidades ? e como consequência poderiam promover o surgimento de ilhas de calor ? será que todo o esgoto sanitário produzido por esse complexo iria ser tratado ? Sem contar o contraste social onde de um lado do rio, no bairro de São José, teríamos um complexo moderno e do outro no bairro de Brasília Teimosa humildes moradias ribeirinhas. Portanto é bastante importante que uma decisão desse porte não esteja somente atrelada aos interesses do capital e sim a planos bem elaborados, onde a população de modo bem democrático estaria presente.
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