segunda-feira, 28 de abril de 2014

Dia da Caatinga: veja o que estudiosos falam sobre o bioma predominantemente brasileiro!

     Nesta segunda-feira, 28 de abril, está sendo comemorado o Dia da Caatinga. E para lembrar desta data especial, que faz jus ao bioma que se insere especialmente no Nordeste Brasileiro, o site Alagoas na Nettraz durante toda a semana, reportagens, poesias e cordéis em homenagem a este ecossistema muito ameaçado pela ação humana.

     Os conteúdos, além de seu teor informativo e didático, tem o intuito de alertar os órgãos públicos e a própria população para que, quem sabe, um dia haja uma atenção especial a este bioma tão pouco estudado.
Por que hoje?
      
     Começamos a comemorar o Dia da Caatinga em agosto de 2003, quando o então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva assinou o Decreto que institui a data festiva.


Este dia foi escolhido para homenagear o primeiro ecólogo do Nordeste brasileiro. Pioneiro em estudos desse bioma, o professor João Vasconcelos Sobrinho, nascido nessa data, no ano de 1908, em Moreno, Pernambuco.

O estudioso foi um dos fundadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco, do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, do Jardim Botânico do Recife, da Estação Ecológica de Tapacurá e da Associação Pernambucana de Defesa do Ambiente. Em sua carreira publicou cerca de 30 livros, todos sobre ecologia e conservação dos recursos naturais, entre eles: “Processos de desertificação ocorrentes no Nordeste do Brasil: sua gênese e sua contenção”.
O que é a Caatinga?

A Caatinga abrange cerca de 10% do território nacional, o que representa aproximadamente, 734.478 km². Localizando-se nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande Norte, Sergipe e parte do norte de Minas Gerais.

Hoje trazemos diversas opiniões de estudiosos profundamente conhecedores e apaixonados por esta vegetação, também chamada de “Mata Branca”, que tem este nome advindo do tupi: caa/mata, mais tinga/branca.

Em entrevista a Revista do Instituto Humanitas Unisinos (IHU), a professora Lúcia Helena Piedade Kiill, graduada em Ciências Biológicas pela Faculdade de Filosofia Ciências e mestrado em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, afirma que a devastação e o desaparecimento da Caatinga podem ser considerados como um dos impactos ambientais mais relevantes para o Semiárido brasileiro.

“Hoje, a degradação e fragmentação de ambientes naturais são consideradas como uma das principais causas de extinção, pois, além de reduzirem os habitats disponíveis para a fauna e flora locais, aumentam o grau de isolamento entre suas populações, o que pode acarretar perdas de variabilidade genética”, conta a bióloga.

Lucia também lembra que, por se tratar de um bioma de ocorrência exclusivamente no território brasileiro, a Caatinga possui flora e fauna endêmicas da região, ou seja, que não ocorre em nenhum outro bioma. “O desaparecimento dessas espécies, mesmo antes de serem estudadas, dificulta o entendimento dos processos ecológicos e, consequentemente, de ações para minimizar esses impactos”, aponta a professora.

Outro conhecedor deste assunto, o agrônomo Haroldo Schistek ressalta que a situação da Caatinga seja catastrófica. “Esse bioma continua sendo o mais desconhecido do Brasil, embora seja característico nosso, só existe no nosso país. Cientificamente tem-se avançado, mas os políticos que tomam a decisão não querem reconhecer sua fragilidade e realizar as propostas da sociedade civil que, de um lado, poderiam garantir a sua preservação e, de outro lado, poderiam garantir uma renda estável para a população humana”, conta o professor, formado pela Universidade de Agricultura de Viena.

O estudioso continua: “A Caatinga ocupa 11% do território nacional e mereceria, sem dúvida, um enfoque apropriado e políticas públicas feitas exclusivamente para a área que engloba. Esta área corresponde às superfícies da Alemanha e França juntas! – imagine quantas políticas localizadas regionalmente podemos encontrar nesses dois países e aqui não temos, até o momento, nenhuma política consistente para a área toda.”

Haroldo fala de uma forma bastante didática sobre o problema que há muito assola o sertão nordestino: “Infelizmente, preciso insistir num fato que todos preferem não mencionar, por ser incômodo, por tocar em privilégios de uma minoria e de ser perigoso e, em muitos casos, até mortal. Trata-se da questão da terra, ou melhor, do tamanho dela. 

A Embrapa Semi Árido afirma que na grande região da Depressão Sertaneja uma propriedade necessita de até 300 hectares de terra para ser sustentável, sendo a atividade principal a criação de caprinos e ovinos. Assim, a principal forma de preservar a Caatinga é dotar as famílias de um tamanho de terra adequado às condições de semiaridez. Quanto mais seca a região, mais terra se precisa.

O estudioso do bioma Caatinga, professor e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco, Marcelo Tabarelli, que há vários anos vê a degradação desse bioma avançar, também acende a luz vermelha e faz um alerta.

“Sem chuva e com o avanço das obras de infraestrutura e da agricultura e pecuária de baixos investimentos, a Caatinga sofrerá um processo natural de desertificação”. E completa: “A Caatinga é o patinho feio dos ecossistemas brasileiros”, pontua Tabarelli.

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