Nesta
segunda-feira, 28 de abril, está sendo comemorado o Dia da Caatinga. E para
lembrar desta data especial, que faz jus ao bioma que se insere especialmente
no Nordeste Brasileiro, o site Alagoas na Nettraz durante toda a semana,
reportagens, poesias e cordéis em homenagem a este ecossistema muito ameaçado
pela ação humana.
Os
conteúdos, além de seu teor informativo e didático, tem o intuito de alertar os
órgãos públicos e a própria população para que, quem sabe, um dia haja uma
atenção especial a este bioma tão pouco estudado.
Por
que hoje?
Começamos
a comemorar o Dia da Caatinga em agosto de 2003, quando o então presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva assinou o Decreto que institui a data
festiva.
Este
dia foi escolhido para homenagear o primeiro ecólogo do Nordeste brasileiro.
Pioneiro em estudos desse bioma, o professor João Vasconcelos Sobrinho, nascido
nessa data, no ano de 1908, em Moreno, Pernambuco.
O
estudioso foi um dos fundadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco, do
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, do Jardim Botânico do
Recife, da Estação Ecológica de Tapacurá e da Associação Pernambucana de Defesa
do Ambiente. Em sua carreira publicou cerca de 30 livros, todos sobre ecologia
e conservação dos recursos naturais, entre eles: “Processos de desertificação
ocorrentes no Nordeste do Brasil: sua gênese e sua contenção”.
O
que é a Caatinga?
A
Caatinga abrange cerca de 10% do território nacional, o que representa
aproximadamente, 734.478 km². Localizando-se nos estados de Alagoas, Bahia,
Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande Norte, Sergipe e parte
do norte de Minas Gerais.
Hoje
trazemos diversas opiniões de estudiosos profundamente conhecedores e
apaixonados por esta vegetação, também chamada de “Mata Branca”, que tem este
nome advindo do tupi: caa/mata, mais tinga/branca.
Em entrevista a Revista do
Instituto Humanitas Unisinos (IHU), a professora Lúcia Helena
Piedade Kiill, graduada em Ciências Biológicas pela Faculdade de Filosofia
Ciências e mestrado em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas
– Unicamp, afirma que a devastação e o desaparecimento da Caatinga podem ser
considerados como um dos impactos ambientais mais relevantes para o Semiárido
brasileiro.
“Hoje,
a degradação e fragmentação de ambientes naturais são consideradas como uma das
principais causas de extinção, pois, além de reduzirem os habitats disponíveis
para a fauna e flora locais, aumentam o grau de isolamento entre suas
populações, o que pode acarretar perdas de variabilidade genética”, conta a
bióloga.
Lucia
também lembra que, por se tratar de um bioma de ocorrência exclusivamente no
território brasileiro, a Caatinga possui flora e fauna endêmicas da região, ou
seja, que não ocorre em nenhum outro bioma. “O desaparecimento dessas espécies,
mesmo antes de serem estudadas, dificulta o entendimento dos processos
ecológicos e, consequentemente, de ações para minimizar esses impactos”, aponta
a professora.
Outro
conhecedor deste assunto, o agrônomo Haroldo Schistek ressalta que a
situação da Caatinga seja catastrófica. “Esse bioma continua
sendo o mais desconhecido do Brasil, embora seja característico nosso, só
existe no nosso país. Cientificamente tem-se avançado, mas os políticos que
tomam a decisão não querem reconhecer sua fragilidade e realizar as propostas
da sociedade civil que, de um lado, poderiam garantir a sua preservação e, de
outro lado, poderiam garantir uma renda estável para a população humana”, conta
o professor, formado pela Universidade de Agricultura de Viena.
O
estudioso continua: “A Caatinga ocupa 11% do território nacional e mereceria,
sem dúvida, um enfoque apropriado e políticas públicas feitas exclusivamente
para a área que engloba. Esta área corresponde às superfícies da Alemanha e
França juntas! – imagine quantas políticas localizadas regionalmente podemos
encontrar nesses dois países e aqui não temos, até o momento, nenhuma política
consistente para a área toda.”
Haroldo
fala de uma forma bastante didática sobre o problema que há muito assola o
sertão nordestino: “Infelizmente, preciso insistir num fato que todos preferem
não mencionar, por ser incômodo, por tocar em privilégios de uma minoria e de
ser perigoso e, em muitos casos, até mortal. Trata-se da questão da terra, ou
melhor, do tamanho dela.
A Embrapa Semi Árido afirma que na grande região da
Depressão Sertaneja uma propriedade necessita de até 300 hectares de terra para
ser sustentável, sendo a atividade principal a criação de caprinos e ovinos.
Assim, a principal forma de preservar a Caatinga é dotar as famílias de um
tamanho de terra adequado às condições de semiaridez. Quanto mais seca a
região, mais terra se precisa.
O
estudioso do bioma Caatinga, professor e pesquisador da Universidade Federal de
Pernambuco, Marcelo Tabarelli, que há vários anos vê a degradação desse bioma
avançar, também acende a luz vermelha e faz um alerta.
“Sem
chuva e com o avanço das obras de infraestrutura e da agricultura e pecuária de
baixos investimentos, a Caatinga sofrerá um processo natural de
desertificação”. E completa: “A Caatinga é o patinho feio dos
ecossistemas brasileiros”, pontua Tabarelli.
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