segunda-feira, 12 de março de 2012

Código Florestal, sem consenso a votação é adiada novamente


    O novo Código Florestal teve sua votação mais uma vez adiada por falta de consenso. A questão de entrave é que a bancada ruralista não ficou satisfeita com as alterações no texto que havia sido aprovado no Congresso. O substitutivo do Senado ficou menos marrom do que o projeto da Câmara. A inclusão da proteção ambiental e do combate às mudanças climáticas como princípios no texto do Senado retoma, ao menos parcialmente, o caráter de política ambiental do Código. Por sua vez, a indicação de que os produtores são obrigados a recomporem parte das Áreas de Preservação Permanente (APPs), representa um ponto e vírgula na polêmica emenda 164, aprovada no Congresso, e que dá anistia a desmatamentos anteriores a 2008 realizados em áreas de APPS. Segundo os ruralistas isso iria retirar cerca de 33 milhões de hectares de áreas produtivas. Mas o argumento, principalmente para grandes latifúndios é no mínimo absurdo, haja vista o alto percentual de áreas improdutivas.
Sob o argumento de solidariedade a agricultura familiar, o que se vê prevalecer ainda no texto que deve seguir para votação no Congresso é o da desobrigação de práticas conservacionistas. Tratar de maneira uniforme situações socioculturais muitos distintas, como no caso da agricultura familiar e do grande latifúndio é, no mínimo, equivocado.
    O fato é que a discussão ganhou uma conotação política, com grande pressão de setores da sociedade – ambientalistas e ruralistas –, esses últimos com posições privilegiadas no processo, ao ponto do relator do projeto na Câmara, Paulo Piau (PMDB-MG), ser o próprio autor da emenda 164 já mencionada antes. Posicionamentos técnicos como o que produziu a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia brasileira de Ciências (ABC) não foram considerados e o discurso de que o maior cuidado com a conservação são entraves ao progresso e a melhorias sociais são ainda estampados como argumentos em prol do texto aprovado no Congresso. A sociedade civil organizada não considera a contento nenhum dos dois projetos.
     
    A demora na votação pode ser vista como desfavorável aos ruralistas, pois com a proximidade da Rio+20 aumentam as pressões internacionais e a exposição das condutas na política ambiental brasileira.

    Mesmo tratando-se de um tema da maior importância para o equilíbrio ambiental e manutenção dos chamados serviços dos ecossistemas, o que rebate inclusive nas atividades produtivas, parece haver uma pressa que não condiz com a necessidade de amadurecimento e ampliação das discussões.


Edneida Cavalcanti
NGA/FCAP

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