quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sujeira do capitalismo

                                                                 
Edneida Rabêlo Cavalcanti

Notícias e imagens bizarras estamparam capas de jornais por esses dias em Pernambuco, com repercussões nacionais. Trata-se do comércio nada legal de tecidos utilizados no processo de assistência a saúde, trazidos dos Estados Unidos da América e utilizados na fabricação de forros e bolsos de jeans no pólo de confecção do estado. São basicamente lençóis. O sociólogo Roberto Martins escreveu em seu blog: “Logo o lençol branco, símbolo do que é imaculado, e que assume esta conotação de pureza, de limpeza, de bem e de inocência. Os lençóis brancos imaculados!”
Tudo indica que não é atividade recente, e há suspeitas de contaminação do material, o que está sendo pesquisado por setores responsáveis. Mas ressalte-se que em 2009 a Universidade Federal de Pernambuco analisou materiais desse tipo, a partir de pedido que a Receita Federal fez ao proprietário da carga, e detectou a presença de microorganismos que poderiam prejudicar a saúde humana. Pelo que sei, ao menos aqui no Brasil, o lixo hospitalar, inclusive roupa de cama e vestimentas médicas fora de uso, deve ter uma destinação própria regulamentada por leis e normas técnicas. Imagino que nos EUA as normativas sejam ainda mais sérias e restritivas.

O que continua não tendo limite é a voracidade do capitalismo. Lembram da Lei de Gerson? “É preciso levar vantagem em tudo”, bem no sentido negativo. Moral e ética vão é para o espaço! O custo social e ambiental não conta, perigo de que pessoas sejam contaminadas muito menos. Burlar a legislação é quase um risco calculado, afinal ainda temos precariedades no sistema de fiscalização e muita corrupção pelo percurso, impregnada de forma difusa em nossa sociedade e pelo que podemos ver, na dos americanos também.
O caso é emblemático, mas deve ser visto com seriedade e sem generalizações, pois essas servem para que não se identifique autorias, para que os culpados se mesclem em meio a toda uma atividade produtiva, responsável por um dos pólos de desenvolvimento ou, melhor dizendo, de crescimento econômico de Pernambuco. A ressalva é porque o segmento tem sérios passivos socioambientais (lançamento de efluentes nos recursos hídricos sem tratamento, por exemplo), que demandam um planejamento e gestão de políticas públicas com um foco mais forte na sustentabilidade.
Mas uso de lixo hospitalar é demais! A Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Ampevisa), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Política Federal (PF), Ministério Público de Pernambuco (MPPE) são algumas das instituições do poder executivo e judiciário envolvidas. Estão atuando e precisam ser fortalecidas em suas investigações e pareceres para que o assunto não morra. Há inclusive ação conjunta com o FBI (Polícia Federal norte-americana), para que seja rastreado o conjunto de pessoas e empresas envolvidas nos dois países. Em realidade, creio ser esse caso a ponta de um iceberg daqueles grandes, bem grandes. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário