Edneida Rabêlo
Cavalcanti
Notícias
e imagens bizarras estamparam capas de jornais por esses dias em Pernambuco,
com repercussões nacionais. Trata-se do comércio nada legal de tecidos
utilizados no processo de assistência a saúde, trazidos dos Estados Unidos da
América e utilizados na fabricação de forros e bolsos de jeans no pólo de
confecção do estado. São basicamente lençóis. O sociólogo Roberto Martins
escreveu em seu blog: “Logo o lençol branco, símbolo do que é
imaculado, e que assume esta conotação de pureza, de limpeza, de bem e de
inocência. Os lençóis brancos imaculados!”
Tudo indica que não é atividade recente, e há
suspeitas de contaminação do material, o que está sendo pesquisado por setores
responsáveis. Mas ressalte-se que em 2009 a Universidade Federal de Pernambuco
analisou materiais desse tipo, a partir de pedido que a Receita Federal fez ao
proprietário da carga, e detectou a presença de microorganismos que poderiam
prejudicar a saúde humana. Pelo que sei, ao menos aqui no Brasil, o lixo
hospitalar, inclusive roupa de cama e vestimentas médicas fora de uso, deve ter
uma destinação própria regulamentada por leis e normas técnicas. Imagino que
nos EUA as normativas sejam ainda mais sérias e restritivas.
O que continua não tendo limite é a
voracidade do capitalismo. Lembram da Lei de Gerson? “É preciso levar vantagem
em tudo”, bem no sentido negativo. Moral e ética vão é para o espaço! O custo
social e ambiental não conta, perigo de que pessoas sejam contaminadas muito
menos. Burlar a legislação é quase um risco calculado, afinal ainda temos
precariedades no sistema de fiscalização e muita corrupção pelo percurso,
impregnada de forma difusa em nossa sociedade e pelo que podemos ver, na dos
americanos também.
O caso é emblemático, mas deve ser visto com
seriedade e sem generalizações, pois essas servem para que não se identifique
autorias, para que os culpados se mesclem em meio a toda uma atividade
produtiva, responsável por um dos pólos de desenvolvimento ou, melhor dizendo,
de crescimento econômico de Pernambuco. A ressalva é porque o segmento tem
sérios passivos socioambientais (lançamento de efluentes nos recursos hídricos
sem tratamento, por exemplo), que demandam um planejamento e gestão de
políticas públicas com um foco mais forte na sustentabilidade.
Mas uso de lixo hospitalar é demais! A Agência Pernambucana de
Vigilância Sanitária (Ampevisa), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), Política Federal (PF), Ministério Público de Pernambuco (MPPE) são
algumas das instituições do poder executivo e judiciário envolvidas. Estão
atuando e precisam ser fortalecidas em suas investigações e pareceres para que
o assunto não morra. Há inclusive ação conjunta com o FBI (Polícia Federal
norte-americana), para que seja rastreado o conjunto de pessoas e empresas
envolvidas nos dois países. Em realidade, creio ser esse caso a ponta de um iceberg daqueles grandes, bem grandes.
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