segunda-feira, 23 de maio de 2011

Código Florestal – a sociedade precisa sair da condição de indeferença

Edneida Rabêlo Cavalcanti

Esta deveria ser uma semana na qual a sociedade brasileira teria que se mobilizar e estar em condições de assumir a condição de cidadania ativa, de sair do lugar da indiferença e realmente olhar com atenção quais as repercussões de curto e longo prazo das mudanças propostas no Código Florestal.

Certas discussões continuam passando ao lardo do conjunto de temas que entra na lista de interesse das pessoas. Será que existe um filtro que faz com que a maioria da população não perceba a importância de certas decisões em suas vidas? Isso seria fruto de nosso processo educativo fragmentado, da mídia que não abre espaço efetivo para aprofundar essas discussões? Ou mesmo, concordando com Nicholas Geogesku, será que já fizemos nossas escolhas de termos atendida nossa gana pelo ilusório progresso, mesmo que isso limite a existência de vida com qualidade no futuro?

Bem, de forma mais direta, parece que os cidadãos, cada vez mais concentrados nos espaços urbanos – 85% da população –, perderam a capacidade de perceber o quanto, por mais que avancemos na tecnologia, estamos intricados e dependemos dos ciclos da natureza. Ainda não inventamos, e o ainda é pura provocação, uma forma de não dependermos do ciclo hidrológico, por exemplo. Também não existe mágica para que este funcione independente da presença e do papel desempenhado pela vegetação.

É aí que temos o ponto crucial das mudanças propostas para o Código Florestal, no relatório elaborado pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP), redução da cobertura florestal, seja das áreas de Reserva Legal, área a ser deixada em cada propriedade para que sejam garantidos serviços ecossistêmicos – os que a dinâmica da natureza oferece de graça para que tenhamos equilíbrio no ciclo de carbono e de água, só para citar dois exemplos –, seja das matas ao longo dos cursos de água, uma das categorias de Áreas de Preservação Permanente (APPs).

Parece que aprendemos pouco com os erros, com os desastres, muitos deles recentes e que provocaram inúmeras vítimas – citaria os desmoronamentos nas serras do Rio de Janeiro e as enchentes do litoral sul de Pernambuco –. Lógico que as causas desses desastres não são únicas, mas com certeza a ocupação de áreas de APPs contribuiu para o dimensionamento dos mesmos. Resta sabermos se diante dessas questões concretas e de cenários que nos colocam a necessidade de agir com precaução, iremos aceitar as mudanças propostas, de forma apressada, rejeitando pedidos de instituições renomadas como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) de adiamento da votação e ampliação das discussões, pressionada pelos interesses econômicos, que podem ser vítimas futuras da própria imprudência


Geógrafa. Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco.

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