Contrariamente ao que se tem propagado, os fundamentos da economia brasileira não estão sólidos. Por mais que se apregoe o contrário, o crescimento não é sustentável. A recente explosão de consumo foi antes uma resposta a estímulos fiscais e creditícios de curto prazo, e não devido a uma revolução na estrutura produtiva do País.
A crise internacional iniciada em 2008 (sem data para acabar) levou o governo a adotar medidas como a redução do IPI sobre automóveis e o aumento do crédito ao consumidor, fazendo uso dos bancos oficiais, em condições nunca sonhadas: prazos de 60 meses, juros abaixo de 2% ao mês e um bom período de carência. A classe média nunca se viu tão endividada e os lucros do Banco do Brasil foram às alturas.
Alguns economistas saudaram essas ações como keynesianas. Contudo, observe-se que Keynes propunha interveniência anticíclica via aumento do investimento, e somente após e em decorrência deste, é que se teria o aumento do consumo. O que se vê agora é o contrário. Estimula-se prioritariamente o consumo, o das famílias e o do governo, seja por meio do crédito fácil, seja por redução de impostos, ou ainda devido ao aumento da folha dos servidores. O investimento público e privado, ao contrário, mantém-se baixo, em torno de 18% do PIB, deste modo virando Keynes de ponta-cabeça.
Na economia real, as famílias anteciparam suas aquisições, aproveitando os estímulos temporários, concentrando em poucos meses o que consumiriam nos próximos anos. Infelizmente, depois de um surto consumista, vem sempre uma crise de sustentabilidade, em particular, no setor de imóveis e de bens duráveis em geral.
Enquanto isso, os projetos públicos de investimentos em infraestrutura permaneceram pífios porque o governo optou por expandir seus gastos correntes, em detrimento de projetos estruturadores, embora cuide de repelir qualquer rumor acerca de falta de dinheiro, atribuindo ao Ibama, ao TCU e à Lei 8.666, o atraso de suas obras.
Em economia, não há mágicas. O governo lançou a esmo um Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC-1, sabendo que não iria realizá-lo. Em Pernambuco, especialmente, só obtivemos promessas. Nem mesmo a duplicação da BR-101-Norte foi concluída. Ainda assim, para fins eleitoreiros, o governo lançou o PAC-2, o qual, cúmulo da ironia, prevê a duplicação da BR-101-Sul. Se o PAC-1 foi irresponsável, o PAC-2 é imoral.
Em meio a este cenário, as pessoas confundem políticas demagógicas com políticas de desenvolvimento sustentável. A popularidade do presidente Lula tornou-se tão elevada que mesmo os políticos de oposição hesitam em criticá-lo (fenômeno a que Krugman chamaria de pop internationalism, uma unanimidade em cima do pensamento fácil). Não obstante, o chefe do executivo erra, ao favorecer o hoje em prejuízo do amanhã.
O aumento do consumo desconectado do aumento de produtividade gera desequilíbrios de médio e longo prazo, tais como, inflação, desequilíbrio fiscal, déficit comercial, elevação dos juros, endividamento das famílias, congestionamentos em geral (de trânsito, de serviços) e maior pressão sobre o meio ambiente.
O impaludismo consumista somente não deixará sequelas se admitirmos que nos próximos anos as famílias consigam, simultaneamente: (a) pagar os juros dos empréstimos, (b) amortizar suas dívidas e (c) manter o atual ritmo de consumo. Como não há nada que justifique tais expectativas (pois a produtividade do trabalho e do capital não foram substancialmente alteradas via investimento), dificilmente teremos um desfecho feliz para esta história.
Muito provavelmente o governo precisará induzir inflação para amenizar a dívida pública interna, trazendo alívio também aos devedores privados que tenham seus empréstimos a juros pré-fixados. Outra hipótese é a de que a economia passará por um período recessivo de modo a acomodar os exageros do biênio 2009/2010, ameaçando, por inadimplência, todo o sistema financeiro.
A crise internacional iniciada em 2008 (sem data para acabar) levou o governo a adotar medidas como a redução do IPI sobre automóveis e o aumento do crédito ao consumidor, fazendo uso dos bancos oficiais, em condições nunca sonhadas: prazos de 60 meses, juros abaixo de 2% ao mês e um bom período de carência. A classe média nunca se viu tão endividada e os lucros do Banco do Brasil foram às alturas.
Alguns economistas saudaram essas ações como keynesianas. Contudo, observe-se que Keynes propunha interveniência anticíclica via aumento do investimento, e somente após e em decorrência deste, é que se teria o aumento do consumo. O que se vê agora é o contrário. Estimula-se prioritariamente o consumo, o das famílias e o do governo, seja por meio do crédito fácil, seja por redução de impostos, ou ainda devido ao aumento da folha dos servidores. O investimento público e privado, ao contrário, mantém-se baixo, em torno de 18% do PIB, deste modo virando Keynes de ponta-cabeça.
Na economia real, as famílias anteciparam suas aquisições, aproveitando os estímulos temporários, concentrando em poucos meses o que consumiriam nos próximos anos. Infelizmente, depois de um surto consumista, vem sempre uma crise de sustentabilidade, em particular, no setor de imóveis e de bens duráveis em geral.
Enquanto isso, os projetos públicos de investimentos em infraestrutura permaneceram pífios porque o governo optou por expandir seus gastos correntes, em detrimento de projetos estruturadores, embora cuide de repelir qualquer rumor acerca de falta de dinheiro, atribuindo ao Ibama, ao TCU e à Lei 8.666, o atraso de suas obras.
Em economia, não há mágicas. O governo lançou a esmo um Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC-1, sabendo que não iria realizá-lo. Em Pernambuco, especialmente, só obtivemos promessas. Nem mesmo a duplicação da BR-101-Norte foi concluída. Ainda assim, para fins eleitoreiros, o governo lançou o PAC-2, o qual, cúmulo da ironia, prevê a duplicação da BR-101-Sul. Se o PAC-1 foi irresponsável, o PAC-2 é imoral.
Em meio a este cenário, as pessoas confundem políticas demagógicas com políticas de desenvolvimento sustentável. A popularidade do presidente Lula tornou-se tão elevada que mesmo os políticos de oposição hesitam em criticá-lo (fenômeno a que Krugman chamaria de pop internationalism, uma unanimidade em cima do pensamento fácil). Não obstante, o chefe do executivo erra, ao favorecer o hoje em prejuízo do amanhã.
O aumento do consumo desconectado do aumento de produtividade gera desequilíbrios de médio e longo prazo, tais como, inflação, desequilíbrio fiscal, déficit comercial, elevação dos juros, endividamento das famílias, congestionamentos em geral (de trânsito, de serviços) e maior pressão sobre o meio ambiente.
O impaludismo consumista somente não deixará sequelas se admitirmos que nos próximos anos as famílias consigam, simultaneamente: (a) pagar os juros dos empréstimos, (b) amortizar suas dívidas e (c) manter o atual ritmo de consumo. Como não há nada que justifique tais expectativas (pois a produtividade do trabalho e do capital não foram substancialmente alteradas via investimento), dificilmente teremos um desfecho feliz para esta história.
Muito provavelmente o governo precisará induzir inflação para amenizar a dívida pública interna, trazendo alívio também aos devedores privados que tenham seus empréstimos a juros pré-fixados. Outra hipótese é a de que a economia passará por um período recessivo de modo a acomodar os exageros do biênio 2009/2010, ameaçando, por inadimplência, todo o sistema financeiro.
Publicado no JORNAL DO COMMERCIO, Recife, em 18.09.2010
Por Jacques Ribemboim (economista) , jacquesribemboim@oi.com.br
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