sexta-feira, 4 de junho de 2010

Verdes

Publicado no Jornal do Commercio de 01.06.2010, Recife.
Jacques Ribemboim , economista ambiental
jacquesribemboim@oi.com.br

O movimento ambiental surge nos anos sessenta, com uma ideologia centrada na questão verde, ou, como dizemos hoje, no ecologismo puro. Pouca atenção era destinada ao ser humano como parte integrante da natureza. De fato, não poderia ser diferente, em um mundo onde se incentivava o desmatamento, o comércio de animais silvestres, o uso indiscriminado de agroquímicos, o crescimento econômico a qualquer preço. Sendo um movimento contestatório, seria natural que radicalizasse posições. Foram estas raízes que conferiram o termo verde aos ambientalistas até os dias atuais.
Naquele período, a humanidade se deparava pela primeira vez, em escala global, com os limites do crescimento. Até então, pensávamos que o mundo era infinito em seus recursos. Mas o ritmo populacional e os padrões equivocados de consumo colocavam em cheque os antigos paradigmas. Não se tratava mais de um problema malthusiano, mas de uma crise civilizatória.
Na década de oitenta, o ambientalismo expande horizontes. Não se ocupa somente do verde, interessa-se pelos problemas urbanos e das aglomerações industriais. A antropofobia inicial cede terreno à busca por qualidade de vida. Emerge a Agenda Marrom, uma alusão à cor da fumaça nas chaminés. Os cidadãos exaustos de tanta poluição, violência, congestionamentos, procuram soluções. A economia ambiental retoma o velho conceito de externalidade e passa a incorporar as variáveis ambientais no foco da análise. A poluição é considerada então como parte dos custos sociais de produção, mas que são arcados por todos, independentemente da participação no consumo. Firmas e indivíduos agindo livremente privatizam receitas e coletivizam custos. Os governos são chamados a intervir nos mercados até pelos mais ferrenhos adeptos do liberalismo. A economia e a ecologia convergem em linguagem e objetivos.
Nos anos 90, o ambientalismo adquire plena maturidade. Além de verde e marrom, veste matizes de branco. A partir do Relatório Brundtland e da Agenda 21, fundamenta-se um conceito sob o qual as gerações presentes assumem compromisso com as gerações futuras. Nasce o conceito de desenvolvimento sustentável. Neste novo contexto, busca-se um tipo de desenvolvimento econômico que combine a uma só vez, preservação, democracia e justiça social. O ambientalismo apregoa a paz, o respeito às minorias e à natureza. Constitui um novo pacto de convivência planetária.
Não obstante, o ambientalismo contemporâneo ainda é confundido com aquele dos primórdios. Muitos ainda o têm como restrito a questões de fauna e flora, biodiversidade ou conservação de florestas. Isto pode dificultar a ação pragmática dos grupos de pressão e de partidos alinhados a seu ideário.
Por isso, é importante ressaltar a superação do tom monocórdio original. As preocupações ambientais permeiam hoje todos os setores da sociedade. Entender que o ambientalismo continua verde, mas também é marrom e branco. E amarelo, azul, vermelho, rosa. O ambientalismo moderno é cromodiverso.

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