terça-feira, 22 de junho de 2010

José Saramago deixa legado cultural e em defesa do desenvolvimento sustentável


O escritor português José Saramago faleceu no dia 18 de junho deixando milhões de leitores órfãos. Em seu legado, além de dezenas de obras, de um prêmio Nobel de Literatura e de prêmio Camões, o escritor deixou a sua preocupação e consciência socioambiental.
Seu livro As Intermitências da Morte foi o primeiro no Brasil a ser impresso em papel e gráfica certificados pelo FSC e, em seus textos, Saramago deixava clara a sua preocupação com o desenvolvimento justo e sustentável.
Quando decidiu lançar o livro, em 2005, o autor aderiu à campanha do Greenpeace para salvar as últimas florestas primárias do planeta e pediu pessoalmente a suas editoras em todo o mundo que seguissem normas ambientalmente adequadas para produzir a nova obra.
Desta forma, As Intermitências da Morte cumpriu todas as recomendações do FSC, desde o cuidado com a escolha do papel até a gráfica certificada onde a obra foi impressa. O FSC é o único sistema de certificação independente que adota padrões socioambientais internacionalmente aceitos, incorporando de maneira equilibrada os interesses de grupos sociais, ambientais e econômicos.
Na época do lançamento do livro, a então campaigner do Greenpeace, Rebeca Lerer, falou da importância de ações como estas em um setor que, apesar do grande estímulo cultural, consome avidamente papel e estimula a destruição das florestas. “Iniciativas como a de José Saramago são provas de respeito, não apenas ao meio ambiente, como a todos nós”, afirmou.
"Chegou o momento da justiça"
Além da preocupação ambiental, Saramago era um ávido defensor de novos modelos econômicos e sociais, que fosse mais justo e democrático. Em um manifesto publicado no seu blog, no dia 28 de outubro de 2008, Saramago, junto a outros autores, defende uma ruptura do sistema econômico atual e o início de uma nova era a favor da justiça social. Confira um trecho:
“Não: agora devemos ser resgatados, os cidadãos, favorecendo com rapidez e valentia a transição de uma economia de guerra para uma economia de desenvolvimento global, em que essa vergonha colectiva do investimento de três mil milhões de dólares por dia em armas, ao mesmo tempo que morrem de fome mais de 60 mil pessoas, seja superada. Uma economia de desenvolvimento que elimine a abusiva exploração dos recursos naturais que tem lugar na actualidade (petróleo, gás, minerais, carvão) e que faça com que se apliquem normas vigiadas por uma Nações Unidas refundadas – que envolvam o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial 'para a reconstrução e desenvolvimento' e a Organização Mundial de Comércio, que não seja um clube privado de nações, mas sim uma instituição da ONU – que disponham dos meios pessoais, humanos e técnicos necessários para exercer a sua autoridade jurídica e ética de forma eficaz.
Investimento nas energias renováveis, na produção de alimentos (agricultura e aquicultura), na obtenção e condução de água, na saúde, educação, habitação… para que a 'nova ordem económica' seja, por fim, democrática e beneficie as pessoas. O engano da globalização e da economia de mercado deve terminar! A sociedade civil já não será um espectador resignado e, se necessário for, utilizará todo o poder de cidadania que hoje, com as modernas tecnologias de comunicação, possui.
Novo capitalismo? Não!
Chegou o momento da mudança à escala pública e individual. Chegou o momento da justiça.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário