quarta-feira, 17 de março de 2010

O valor dos relatórios de Sustentabilidade

Quem diria que uma das empresas mais ricas e “quentes” do mundo passaria cerca de um terço de sua reunião anual discutindo sustentabilidade, o derretimento de geleiras e os melhores pontos do relatório de emissões de gases do efeito estufa (GEEs)? Foi o que aconteceu na reunião de acionistas da Apple, realizada no início de março. Houve duas propostas de acionistas no evento: uma delas apelou para que a empresa defina metas de redução de GEEs e se empenhe melhor nas questões de responsabilidade ambiental corporativa e comunicação em geral. Uma segunda proposta pediu para que a empresa estabeleça um comitê permanente sobre a sustentabilidade Normalmente, são gastos dois minutos para falar e, então, a reunião volta para as questões mais prementes, como qual a melhor maneira de gastar os US$ 25 bilhões da Apple.
No entanto, um investidor politicamente conservador começou a reunião comentando que as geleiras não estavam derretendo e que a mudança climática não era real, tornando o membro do Conselho, Sr. Al Gore, motivo de riso. Isto provocou a rápida resposta de outro acionista, em apoio a Gore, e o desempenho social e ambiental da empresa curiosamente passou a permear grande parte do encontro. Questionamentos sobre o Relatório Anual de Sustentabilidade levaram o CEO, Steve Jobs, a minimizar o valor do relatório. "Nós não gritamos todas as coisas boas que fazemos, apenas tentamos fazer a coisa certa", disse ele. O problema com esta linha de argumento é que permite que as empresas reportem seletivamente as coisas em que estão fazendo progressos, convenientemente evitando lidar com questões que possam estar ignorando.
Embora os relatórios de responsabilidade corporativa da Dell e da HP possam conter algum greenwash, o benefício desses relatórios é estabelecer metas específicas e indicadores-chave de desempenho e, em seguida, discutir como estão. Outro investidor levantou o valor dos relatórios ambientais de produtos, postado no site da Apple. A empresa diz que os relatórios "mostram a pegada ambiental completa de cada novo produto da Apple, para que você possa ver como cada um afeta o planeta." Por exemplo, o relatório sobre o iPhone 3Gs diz que ele emitirá cerca de 55 kg de dióxido de carbono equivalente (CO2e), ao longo de seu ciclo de vida. O problema é que não há uma aplicação útil para esta informação. Até que sejam desenvolvidos protocolos de ensaio uniformes para todos os produtos e uma comparação dos produtos concorrentes, lado a lado, os relatórios não são muito úteis.
A companhia é líder na remoção de produtos químicos tóxicos, reciclagem e os direitos dos trabalhadores, mas a empresa não se tornou um líder por causa de sua própria bússola moral interna. Ela não se engajou realmente em alguns aspectos de redução de gases tóxicos, pelo menos publicamente, até que o Greenpeace a transformou no foco de uma grande campanha. Também não mexeu no assunto reciclagem de e-resíduos até que grupos ativistas a tenham pressionado por vários anos. Até 2005, a Apple não tinha um código de conduta de fornecedores, com intuito de proteger os trabalhadores que fazem seus produtos, quando a Domini Social Investments pressionou a empresa sobre o assunto. A título de comparação, Gap, Nike, Walt Disney, Wal-Mart e outros gigantes do varejo adotaram códigos da cadeia de fornecimento em meados de 1990.
Os problemas associados à sustentabilidade ambiental continuam assustadores. Mas é interessante ver investidores fugirem de sua preocupação habitual (como a empresa não estar pagando um dividendo suficiente), para reconhecer que é necessário fazer um melhor planejamento para que empresas como a Apple possam continuar a prosperar em um futuro de matérias-primas limitadas e abalado pelo carbono.
Mesmo que não queira falar sobre isso, sabemos que a Apple está prestando mais atenção a estas questões e estamos ansiosos para que eles mostrem mais o que estão fazendo.
Fonte: HSM

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